Análise: Darkspore

Quando Spore foi lançado, em setembro de 2008, muitos fãs reclamaram pelo visual infantil do jogo. A opção artística, acima de tudo, visava uma experiência de jogo expandida e livre — o que os jogadores subestimaram por não conter o realismo gráfico desejado. A jogabilidade “aberta demais”, outro que poderia ser um trunfo do jogo, acabou por ser também duramente criticada por ser simplória e carente de alguma profundidade. Salvava-se, no final das contas, os Criadores e as infinitas possibilidades trazidas por eles.

Três anos depois, a Maxis investe em uma nova empreitada. Não só para a série, mas também para a própria empresa, Darkspore é o primeiro título de progressão linear pré-definida. Ou seja, contém uma história de início, meio e fim que progredirá normalmente, seja lá qual for a decisão do jogador.

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Pois bem, Darkspore é, então, uma experiência nova no universo da franquia. Com planetas em formas totalmente diferentes, criaturas cruéis e sangue, muito sangue. É como se fosse uma releitura da criação de Will Wright coordenada por Tim Burton e Quentin Tarantino. Não há o carisma da Maxis aqui, só há a pancadaria.

E isso é, em certo ponto de vista, uma coisa boa. Darkspore é um típico jogo hack’n’slash, aqueles que você detona seu dedo de tanto apertar o botão no oponente até os golpes do seu personagem o destruir em pedaços. A jogabilidade consiste basicamente em apertar consecutivamente o botão primário em um oponente até matá-lo, e então rumar, também com o botão primário, até um outro ponto do mapa e matar mais oponentes. Esses que surgem em verdadeiras hordas pela tela.

A jogabilidade simples se une a uma interface nem um pouco intuitiva. Embora possua algumas semelhanças com a UI original do Spore, ela é atulhada de opções e comandos (muitos inúteis, vale dizer). Para quem não tem preferência pelos comandos do teclado + mouse, apenas no apontar-e-clicar, acaba sendo um marasmo jogar Darkspore.

Os gráficos, por sua vez, estão caprichados. A Maxis esqueceu a direção de arte bonita e cartunesca do título original e colocou aqui uma atmosfera escura e perigosa, com mundos originais e personagens pouco carismáticos. Os detalhes, mesmo vendo de longe, são muito bem-cuidados e o sangue está lá, jorrando dos furos que suas garras, presas e armas farão nos seus oponentes.

Alguns problemas com a física durante as fases são vistos, e não são raros. Muitos são semelhantes aos vistos no estágio de criatura do Spore, mas nada que vá afetar realmente o capricho visual. É uma pena que a direção de arte não seja tão bem cuidada. Muitos dos cenários só tem conteúdos jogados quase que aleatoriamente em cima do terreno. Uma pena.

Um grande descuido que acompanha a direção de arte é o som. Embora no menu exista uma trilha sonora muito bonita, que lembra a que Vangelis compôs para o clássico pulp “Blade Runner: O caçador de andróides”, ela não se faz presente durante as partidas. Os efeitos sonoros das rajadas dos poderes, dos personagens e de alguma coisa do cenário estão lá, mas tem baixa qualidade e parecem mais apenas ruídos.

Salva-se aí os modos multiplayer de PvP e Co-Op. A Maxis caprichou na integração entre os jogadores para completar ou batalhar por entre as missões. São poucos os lags que eu presenciei durante os testes em minha máquina e o sistema é muito fluído. Também, os servidores escolhem outros jogadores de níveis semelhantes para uma batalha mais equilibrada nas arenas.

Se na apresentação técnica Darkspore figura entre bons acertos e alguns erros, é na história que ele pena. Apresentando uma história interessante, mas muito mal contada e pouco aproveitada, ela acaba sendo apenas uma desculpa para que milhares de criaturas venham te atacar, sem muito nexo para o que acontece ou acontecerá. O desinteresse, então, acaba destruindo a vontade do jogador de descobrir o que acontecerá com o universo.

Também, a Maxis ignorou completamente a base mitológica criada com Spore e Spore Hero, sem mencionar quaisquer detalhes sobre os mistérios que esses jogos deixam (Spode, Os Grox, as tábuas, etc.). Mal aproveitando a história que criou e o que já existia antes dela, a curta campanha acaba por ser relegada ao esquecimento.

Darkspore acaba, então, sendo um título muito mediano. Com uma apresentação gráfica aceitável mas grande desleixo narrativo, o interesse do jogador acaba sendo mais nos modos multiplayer. Nem mesmo o Criador de Criaturas (mutilado, diga-se de passagem), puxa o interesse do jogador por muito tempo. É uma pena, mas não será esse o título que fará jus à revolução do título-mor.

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