A Edição Galáctica do Spore chegou ontem aqui em minha casa e eu não poderia deixar de criar um artigo sobre o jogo, sobre a edição galáctica e tudo o que eu estou sentindo nesse momento. Depois do pulo você poderá conferir a análise que o Esporo fez sobre o evento do ano no mundo dos games.
Spore: ele está aqui.
Provavelmente o jogo mais aguardado do ano nos PCs, Spore chega acumulando três anos de expectativas pelas mãos do pessoal que, há sete anos, trouxe um marco: The Sims.
Esse ambicioso novo jogo, desenvolvido pela Maxis, dá ao jogador o poder de controlar a evolução de uma espécie — desde sua origem unicelular em uma sopa primordial até o desenvolvimento de uma civilização inteligente e com naves espaciais.
Parte de sua tarefa se concentra em colocar dois, quatro ou seis pés em sua célula para poder ir para a terra-firme, onde encontrará outras espécies com as quais deve batalhar ou impressionar para desenvolver suas habilidades e, com elas, criar uma cultura inteligente e imperar com sua civilização. Em algum ponto você conseguirá criar uma nave e navegar em uma verdadeira galáxia com centenas de planetas habitados por criações de outros jogadores.
O mais importante é, porém, que você não apenas interage nesse cenário; você ajuda a criá-lo. Esse é o atributo mais marcante de Spore, o corte definitivo da linha que separa os desenvolvedores dos jogadores. Mesmo que o jogo não tenha sido tudo o que os cinco anos de produção tenham sugerido, Spore é um incrível, perplexo, um pouco irritante, e o mais triunfante exemplo do que acontece quando um time de design obtém o balanço entre as imposições dadas com escolhas mais do que acertadas.
Lutando para ser o organismo mais rápido em um ambiente de rápido desenvolvimento.
O jogo Spore começa com uma poça primordial. Você inicia como um simples organismo com pequenas partes de corpo ajustáveis que te permitem mover e se alimentar de quando você clica em algum local do ambiente em 2D repleto de células rápidas e predadores letais.
Ao consumir pedaços de matéria você adquire pontos de DNA, os quais você pode trocar por novas partes em um simples criador que permite pegar uma parte e colocar onde você bem entender. Essas partes o tornam mais veloz ou perigoso, e podem torná-lo herbívoro, carnívoro ou um meio-termo: onívoro.
Enquanto você navega nesse ambiente psicodélico em busca de mais DNA, ao som de ritmos sintéticos aleatórios que formam músicas únicas compostas por Brian Eno, você acaba por fazer escolhas que afetam seu jogo até o último momento.
Combatendo predadores: equipe sua célula com espinhos, venenos, superfícies elétricas ou outras partes úteis.
Simples como o Estágio de Célula pretende ser, Spore o usa para estabelecer alguns fundamentos cruciais que serão a base dos estágios futuros. Isso inclui uma barra de progresso no canto inferior da tela, o sofisticado mas extremamente intuitivo criador de conteúdos em 3D, o radar e a tela de “missão atual”, e o modo que você morre e é gentilmente levado para um ponto seguro sem perder seus pontos ou habilidades.
É uma maneira inteligente de apresentar o jogador a todos esses conceitos e preceitos sem mencionar qualquer nome em específico. Tudo o que você tem que fazer é comer, editar sua célula, fugir dos predadores ou virar um deles.
A regra dos bípedes: duas pernas, braços e olhos são nossos ideais, mas você pode fazer qualquer coisa.
A EA lançou o Criador de Criaturas em junho passado por R$19,90 — um modo inteligente de alimentar o banco de dados de criações da Maxis do nada para mais de três milhões de criaturas. Inteligente porque Spore encontra criaturas de outros usuários e coloca-as em seu universo enquanto você joga (é possível até mesmo se deparar com encarnações ancestrais de suas criaturas enquanto explora o estágio de célula novamente ou seu planeta natal).
Ao lançar o Criador de Criaturas antes, a EA se assegurou em ter uma vasta fauna de criações disponível para popular os discos rígidos dos jogadores e nas terras dos Spore que ainda estão nas prateleiras.
Alguns jogadores podem observar outras criações e serem intimidados por sua complexidade, mas Spore busca premiar algo maior que a aparência. Tudo o que você precisa fazer é brincar como se estivesse mexendo com um Sr. Cabeça de Batata, trocando as partes do corpo por outras melhores. Algumas vêm com benefícios claramente etiquetados: “morder”, “investir” e “pular” são atributos mais importantes que a morfologia física de uma criação.
É possível, é claro, colocar partes erradas nos lugares errados e fazer uma criatura mortal ou um animal dos mais estranhos, uma vez que o jogo vem com uma vasta gama de opções para os criadores cuidadosos ou amadores, para que todos possam fazer coisas incríveis.
Impressionando vizinhos e criando alianças dançando a “Macarena” alienígena.
No Estágio de Criatura, você caminha (ou rasteja) em terra firme e cruza por paisagens naturais nela, conhecendo novas espécies e ganhando DNA ao estabelecer um relacionamento ou levar ela à extinção.
Ocasionalmente uma nave irá cruzar os céus de seu planeta selvagem e abduzirá alguns nativos, enquanto o resto irá correr e gritar de pavor (uma lembrança para o jogador de que sua existência será provada desde sua ignorante existência selvagem até a sua sapiente influência interplanetária). Enquanto você explora as paisagens naturais de seu planeta, você precisará, pela primeira vez, assumir “posturas”: a “social”, para dançar e cantar com outras criaturas, ou “agressiva”, para atacar e cuspir. Então você abre o Criador de Criaturas, chamando seu parceiro (não há sexos em Spore) para a dança do acasalamento.
É legal na superfície. Mas como a mecânica é basicamente fazer isso de novo e de novo, o estágio começa a ficar tedioso senão acabar rapidamente. E aí está outro princípio de Spore: quando as coisas começam a ficar tediosas, ele trata de reascender nossa curiosidade mudando tudo.
Faça o que eu faço, e não o que eu digo, e talvez nós possamos ser amigos.
Os estágios de célula e de criatura do Spore comprimem eras de evolucionismo em alguns minutos e permitem mudar drasticamente a estrutura morfológica antes de dar uma parada e se preocupar com o desenvolvimento físico. Ao mesmo tempo, Spore trás uma mecânica de habilidades “consequenciais” que afetarão sua espécie em estágios futuros.
Ao jogar com postura sociável, suas criaturas terão poderes de impressionar e melhorar seus relacionamentos com outras espécies. Jogue com postura agressiva, e você irá possuir habilidades desde rugidos amedontradores até um arsenal de bombas.
Criaturas épicas esmagando tribos por diversão.
Entre a mudança drástica dos estágios de criatura e de civilização está o Estágio Tribal, que é a fase mais divertida e desnecessária do jogo. Aqui você irá controlar um esquadrão de combatentes ou músicos (ou ambos, sempre há uma terceira opção em Spore) em um pequeno vilarejo que, ao estabelecer contato com outras tribos, irá crescer e ganhar novas, e úteis, estruturas.
O Criador de Criatura muda de nome e de função, sendo chamado agora “Fornecedor”. Com exceção da pintura da criatura, o corpo não é modelável como no estágio anterior. O fornecedor oferece medalhões, chapéus e outros “enfeites” que farão as habilidades de caça, coleta, luta e socialização melhorarem e definirem o “traço de postura” de sua civilização futuramente.
Tchau garras, oi armas.
O combate no Estágio Tribal é essencialmente unidimensional: se eu não gosto daquela tribo, eu vou com tudo pra cima dela. Isso torna, então, a socialização uma alternativa mais interessante. Basicamente, você faz o que o público pede. E para isso você precisa comprar as barracas que possuem os instrumentos necessários. Quanto maior sua tribo vai ficando, mais instrumentos (no máximo três, bem como as armas) ela vai podendo tocar.
Claro, essa mecânica não é uma maravilha. Você só precisa, realmente, executar o som que é pedido pelos membros da outra tribo, e esperar que eles gostem para dar uma nota positiva como se fosse American Idol. É fácil e rápido.
Felizmente esse estágio tem uma vantagem de acabar antes de se tornar maçante — em no máximo uma hora você já tem todas as partes de seu totem. E ele exibe as animações mais caprichadas do jogo, com criaturas dançando flamenco em torno da fogueira, jogando flores ao presentear outra tribo, ou começar a discutir o que os levou até lá (em um simslish alienígena).
Criando uma cidade perfeita.
Agora Spore se sente em casa.
Com o Estágio de Civilização, Spore não só presta uma homenagem aos clássicos do gênero como Civilization e o próprio SimCity de Will Wright, como também apresenta um pouco do grande escopo que iremos conhecer no próximo estágio. Aqui o foco é na dominação das cidades de um planeta inteiro, e você pode fazer isso com a conquista militar, a dominação religiosa ou a compra por meio de relações econômicas.
Você começa o estágio de civilização com uma cidade e, depois de criar sua prefeitura e seu primeiro veículo terrestre, você precisa conquistar algumas fontes de especiarias, que renderão à sua civilização as tão necessárias Sporegranas. Com esse dinheiro, você melhora a segurança de sua cidade, bem como novos veículos marinhos (os aéreos precisam de um certo número de cidades) e prédios de moradia, entretenimento e fábricas.
Nesse ponto, Spore nos apresenta um verdadeiro jogo de estratégia em tempo real, com foco na dominação somente — sem perder tempo com árvores de tecnologia avançadas ou outros fatores que tirem a atenção do foco principal.
“We all live in a yellow whatever-ine”.
Enquanto outros jogos de estratégia enchem a tela de widgets de estatísticas, Spore se foca na personalização de sua cidade. Antes mesmo de você saber o que precisa fazer, o jogo pede para criar um veículo e um prédio.
E porque não? Assim como o Criador de Criaturas, não existe editor de conteúdos mais intuitivo que os Criadores de Estruturas e Veículos. A base é a mesma: arraste, solte, aumente, diminua e pinte. Não existem muitos conceitos complexos a seguir. Num canto da tela o editor mostra alguns status, como a velocidade, o poder (econômico, militar ou religioso nos veículos; o de entretenimento ou o de dar dinheiro para os edifícios), a segurança, etc. Mas é tudo com tanta simplicidade que o que vale, mesmo, aqui é a estética e a criatividade.
E se você não quer passar uma ou duas horas criando e pintando enquanto você podia estar massacrando povos alienígenas, não tem problema. Spore permite que você pegue uma das milhares de criações dos outros jogadores diretamente da Sporepédia, e ainda oferece algumas opções feitas pela própria Maxis.